
Referência: The National Gallery, Londres
À esquerda, Francisco de Pacheco (1554-1644), A Imaculada Conceição com o Poeta Miguel del Cid, c. 1616-7, Catedral de Sevilha, Andaluzia e à direita, Francisco de Zurbarán (1598-1664), Imaculada Conceição, 1634, Museu Cerralbo, Madri. Imagens da Web Gallery of Art.
As primeiras representações da Imaculada, entretanto, estavam bem distantes desta fórmula que acabou por se popularizar. Na passagem entre a Idade Média e o Renascimento encontramos algumas representações da concepção de Maria e as soluções encontradas pelos artistas variaram bastante. Giotto, por exemplo, na série Cenas da Vida de Joaquim, que decora parte da Capela Scrovegni em Pádua, mostrou o Encontro na Porta Dourada (1304-06), onde vemos Joaquim e Ana trocando um beijo bastante fraternal diante da porta dourada.
Jean Bellegambe, pintor flamengo que viveu na França, encontrou outra maneira para representar a concepção, mostrando Maria dentro do ventre de Ana.
Todas as referências históricas e pesquisas são de Marcia bonnet
Numerosas vezes a festa caiu em desuso e numerosas vezes foi reinstituída ao longo da Idade Média em diversos países europeus. A devoção foi ganhando cada vez mais adeptos e, por volta do século XIII teve início uma grande controvérsia entre Franciscanos e Dominicanos em relação ao dogma. Os Franciscanos defendiam o dogma como o conhecemos hoje: Maria teria sido também concebida sem pecado original, como estava decidido desde o início.
Já os Dominicanos defendiam que Maria teria sido apenas santificada no ventre de Ana, como aconteceu com João Batista, tornando assim seu nascimento um pouco menos miraculoso. Tanto Dominicanos quanto Franciscanos acreditavam que suas versões para o nascimento de Maria estariam fortalecendo a Igreja Católica e a figura do Cristo enquanto salvador.
Entre os séculos XIII e XIV travou-se um embate acirrado entre os doutores da Igreja Latina, que se refletiu na arte produzida na época. Encontramos várias representações da concepção e do nascimento da Virgem apresentando claramente ora idéias defendidas pelos Franciscanos, ora as que advogavam os Dominicanos. As obras que eram partidárias dos Dominicanos tentam mostrar o lado mais humano das cenas, com um tratamento menos idealizado e omitindo qualquer menção a milagres. Já as partidárias dos Franciscanos, mostram as cenas bastante idealizadas e sempre cercadas de eventos milagrosos. Hoje, sabemos que os Franciscanos venceram este embate, mas é importante lembrar que entre os séculos XVI e XVII os jesuítas ainda discutiam o dogma da Imaculada Concepção da Virgem e as controvérsias foram sempre tantas, que só em 1854 o dogma foi reconhecido pela Igreja Católica.
Na constituição Ineffabilis Deus de 8 Dezembro de 1854, Pio IX afirmou que a Virgem Maria Abençoada "no primeiro momento de sua concepção, por um privilégio único e por graça de Deus, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador da raça humana, foi preservada de toda a mancha do pecado original.”
Referências da imagem do post:
Retábulo da Virgem Maria - National Gallery, Londres.
Neste retábulo pode-se observar representações que tendem a reforçar as idéias franciscanas. Aqui, Maria, representada como a Virgem da Humildade, aparece entronizada com o menino e cercada de cenas de milagres envolvendo seu nascimento e seu culto. Nos painéis da esquerda, foram representadas cenas miraculosas envolvendo o nascimento da Virgem:
1) Oferenda de S Joaquim rejeitada;
2) Anjo aparece para S Joaquim;
3) O encontro na porta Dourada;
4) Nascimento da Virgem.
Nos painéis da direita encontramos cenas mostrando milagres da Virgem relacionados à Festa da Imaculada Concepção:
1) Helsin é salvo do naufrágio;
2) Helsin pregando a favor da festa;
3) Padre pecador francês sendo afogado por demônios;
4) Padre restituído à vida. Na predella encontramos representações de Cristo e dos 12 apóstolos. Imagem do site: http://www.philipresheph.com/a424/gallery/concept/concept.htm
O Nascimento da Virgem, 1486-90, obra de Domenico Ghirlandaio, afresco da Capela Tornabuoni, Santa Maria Novella, Florença.
Representações como esta reforçariam a tese dominicana de que a Virgem Maria teria sido apenas santificada no ventre de Ana. É interessante observar como são enfatizados aqui os traços humanos envolvendo seu nascimento: Ana descansando após o parto, as mulheres ajudando, limpando o bebê recém nascido e, ao fundo, um caloroso abraço entre Ana e José, quando teria se dado a concepção, que aqui ocorre no âmbito privado, e não em público como em muitas outras representações, talvez aludindo ao fato de que a concepção de maria poderia ter se dado da maneira convencional. Imagem da Web Gallery of Art
Cappella Tornabuoni - Santa Maria Novella - Florença - Itália
Referências do texto: Márcia Bonnet - PhD em História e Teoria da Arte (Essex, 2001), mestre em História (IFCS-UFRJ, 1996), Esp. em História da Arte e Arquitetura (PUC-Rio, 1991), Esp. em Cultura e Arte Barroca (UFOP, 1995). Prof. Adjunta de História da Arte e pesquisadora da UFRGS e Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Arte Colonial (LEPAC), na mesma universidade
Joaquim obedeceu prontamente e, ao encontrar com Ana, os dois teriam se abraçado e trocado um beijo no rosto – momento que foi, erroneamente, retratado como o instante em que se teria dado a concepção de Maria. Segundo ambos evangelhos, portanto, a semente que gerou Maria, no ventre de Ana foi plantada pelo Senhor.
O Catecismo da Igreja Católica, assim se expressa:Existem outras teorias e doutrinas sobre a concepção de Maria e uma das principais delas é de São Tomaz de Aquino - Leia o documento em formato PDF.
“Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que
Maria, ‘cumulada de graça’ por Deus, foi redimida desde a
concepção. É isso que confessa o dogma da Imaculada
Conceição, proclamado em 1854 pelo Papa Pio IX"
Texto original: Márcia Bonnet –Univ.Federal do Rio Grande do Sul.
Ver online alguns livros apócrifos: gnosis.org, earlychristianwritings.com, ccel.org e metareligion.org.