Nossa Senhora da Expectação do Parto

>> terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Nossa Senhora do Ó é uma devoção mariana surgida em Toledo, na Espanha, remontando à época do X Concílio, presidido pelo arcebispo Santo Eugênio, quando se estipulou que a festa da Anunciação fosse transferida para o dia 18 de Dezembro.
Sucedido no cargo por seu sobrinho, Santo Ildefonso, este determinou, por sua vez, que essa festa se celebrasse no mesmo dia, mas com o título de Expectação do Parto da Beatíssima Virgem Maria. Pelo fato de, nas vésperas, se proferirem as antífonas maiores, iniciadas pela exclamação (ou suspiro) “Oh!”, o povo teria passado a denominar essa solenidade como Nossa Senhora do Ó.

De origem claramente espanhola, conhecida na liturgia com o nome de "Expectação do parto de Nossa Senhora", e entre o povo com o título de "Nossa Senhora do Ó". Os dois nomes encerram o mesmo significado e objeto: os anelos santos da Mãe de Deus por ver o seu Filho nascido. Anelos de milhares e milhares de gerações que suspiram pela vinda do Salvador do mundo, desde Adão e Eva, e que se recolhem e concentram no Coração de Maria, como no mais puro e limpo dos espelhos.

A Expectação do parto não é simplesmente a ansiedade, natural na mãe jovem que espera o seu primogênito, é o desejo inspirado e sobrenatural da "bendita entre as mulheres", que foi escolhida para Mãe Virgem do Redentor dos homens, para corredentora da humanidade. Ao esperar o seu Filho, Nossa Senhora ultrapassa os ímpetos afetivos duma mãe vulgar e eleva-se ao plano universal da economia divina da salvação do mundo. O Filho que vai nascer traz uma missão de catolicidade salvadora.

Não vem simplesmente para sorrir e para beijar a mãe, mas para resgatar com seu sangue o povo. Os sentimentos da Virgem Maria, nos dias que precedem o nascimento de Jesus, não são egoístas; tendem somente para Deus, que será agora dignamente glorificado, e olham para todos os homens, que vão sair da escravidão para entrar na categoria de filhos, de nobres e livres, no Reino de Deus.

As antífonas maiores que põe a Igreja na Liturgia das Horas desde 18 de Dezembro até à véspera do Natal e começam sempre pela interjeição exclamatica Ó, como expoente altíssimo do fervor e ardentes desejos da Igreja, que suspira pela vinda pronta de Jesus, inspiraram ao povo espanhol a formosa invocação de "Nossa Senhora do Ó", Nossa Senhora como centro dos desejos dos antigos justos de Israel e dos fiéis cristãos de hoje, que, à uma e em afetuosa comoção, anelam pela aparição do Messias. É ideia grande e inspirada: A Mãe de Deus, a Virgem Imaculada posta à frente da imensa caravana da humanidade, peregrina pelo deserto da vida, que levanta os braços suplicantes e abre o coração enternecido, para pedir ao céu que lhe envie o Justo, o Redentor.

"Ó Sabedoria, ... vinde ensinar-nos o caminho da salvação." "Ó Chefe da Casa de Israel, ... vinde resgatar-nos com o poder do vosso braço". "Ó Rebento da Raiz de Jessé,... vinde libertar-nos, não tardeis mais". "Ó Chave da Casa de David, ... vinde libertar os que vivem nas trevas e nas sombras da morte". "Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e sol de justiça, vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte". "Ó rei das nações e Pedra angular da Igreja, vinde salvar o homem que formastes do pó da terra". "Ó Emanuel, ... vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus".

A festa de Nossa Senhora do Ó foi instituida no século VI pelo décimo concílio de Toledo, ilustre nos fatos da história pela dolorosa, humilde, edificante e pública confissão de Potâmio, bispo bracarense, pela leitura do testamento do ínclito S. Martinho de Dume, e pela presença simultânea de três santos naturais de Espanha: Santo Eugenio III de Toledo, S. Frutuoso de Braga e o então abade agaliense Santo Ildefonso.
Santo Ildefonso estabeleceu esta festa no dia 18 de Dezembro e deu-lhe o título de Expectação do Parto. Assim ficou sendo na Espanha e passou a muitas Igrejas da França, etc. Ainda hoje é celebrada na arquidiocese de Braga e na Paróquia de Várzea de Lafões.

Iconografia: A imagem de Nossa Senhora do Ó sempre apresenta a mão esquerda espalmada sobre o ventre avantajado, em fase final de gravidez. A mão direita pode também aparecer em simetria à outra ou levantada. Encontram-se imagens com esta mão segurando um livro aberto ou também uma fonte, ambos significando a fonte da vida. Em Portugal essas imagens costumavam ser de pedra e, no Brasil, de madeira ou argila.

Perseguições: No começo do século XIX, mudanças no culto mariano começavam a estimular o dogma da Imaculada Conceição, o que não combinava com aquela santa em estado de adiantada gravidez, como a retratava a iconografia, estimada pelas mulheres à espera da hora do parto.

Muitas imagens foram trocadas pela da Nossa Senhora do Bom Parto, vestida de freira, com o ventre disfarçado pela roupa, ou mesmo pela imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, mais condizente com os ventos moralistas da época.

Somente no fim do século XX se voltou a falar e pesquisar o assunto, tendo-se encontrado imagens antigas enterradas sob o altar das igrejas.

Nossa Senhora do Ó no Brasil: No Brasil, o culto iniciou-se à época desde o início da colonização, com o Capitão donatário Duarte Coelho, na Capitania de Pernambuco. Tendo fundado a vila de Olinda, nessa povoação erigiu-se uma Igreja sob a invocação de São João Batista, administrada por militares, onde era venerada uma imagem de Nossa Senhora da Expectação ou do Ó. De acordo com Frei Vicente Mariano, também se tratava de uma imagem pequena com cerca de dois palmos de altura, entalhada em madeira e estofada, de autoria e origem desconhecida. A tradição reputa esta imagem como milagrosa, tendo vertido lágrimas em 28 de Julho de 1719.

A partir dessa primitiva imagem em Olinda, a devoção se espalhou em terras brasileiras graças a cópias na Ilha de Itamaracá, em Goiana, em Ipojuca e em São Paulo, nesta última em casa da família de Amador Bueno e na do bandeirante Manuel Preto que fundou a igreja e o bairro bem conhecidos até hoje. Os bandeirantes , por sua vez levaram a devoção para Minas Gerais, onde, em Sabará, se erige a magnífica Capela de Nossa Senhora do Ó, em estilo indo-europeu, atualmente tombada pelo Iphan.

  • A primeira imagem deste artigo é uma obra do artista italiano da renascença Piero Della Francesca.
  • A segunda imagem é obra do artista italiano Taddeo Gaddi de Firenze.
  • Nossa Senhora do Ó - Paróquia em São Paulo

Read more...

Iconografia da Virgem - parte 2

>> quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Imagem: Albrecht Dürer, Virgem sentada no crescente lunar. Frontispício da História da Vida da Virgem, 1510 (1500-5), 13x8 cm, Connecticut College Print Collection, e à direita, de autoria de um dos irmãos Wierix, sem título, 2ª metade do séc. XVI, gravura em metal, 10 x 7 cm, Antuérpia. Imagem da Connecticut College Print Collection em http://www.conncoll.edu/visual/

Por volta de 1503, encontramos alguns exemplos de representação que podem ser associados à atual iconografia da Imaculada que conhecemos hoje: uma gravura de Dürer para o Frontispício da sua História da Vida da Virgem (1500-1505), onde a Virgem é retratada como uma mulher com um menino nos braços sentada sobre um crescente lunar e acima de sua cabeça uma coroa formada de doze estrelas; uma gravura sem título dos Irmãos Wierix (2ª metade do séc. XVI – provavelmente uma cópia de um trabalho de Dürer) mostrando a Virgem como uma mulher de pé sobre um crescente lunar com um menino no braço direito; e uma iluminura de Antoine Vérard para o livro de horas Horæ Beatæ Virginis Marie Sarum (1505) onde a Virgem é representada mais uma vez como uma mulher de pé, com um menino no braço direito, só que desta vez temos a adição de um lírio branco em sua mão esquerda.

Imagem: À esquerda, A Virgem de Guadalupe, c. 1531, óleo e têmpera sobre tecido, Santuário da Virgem de Guadalupe, Cidade do México, e à direita, Nuestra Señora de los Milagros (La Conquistadora), madeira policromada e dourada, Museo de San Ignacio, Paraguay.

Ao longo do século XVI, se consolida a representação da Virgem sobre o crescente lunar que chega à América na invocação da Virgem de Guadalupe, cuja primeira representação conhecida data de 1531. Na Europa a representação da Virgem associada ao crescente lunar parece ter se difundido largamente através dos livros de horas – livros de oração utilizados por boa parte da comunidade letrada européia. Note-se que até então este conjunto de atributos foi associado com a Virgem, e não especificamente com a Imaculada. Mas é justamente entre os séculos XVI e XVII que aparecem as primeiras representações da Imaculada Concepção como a reconhecemos hoje. Ao crescente lunar, foi adicionada a serpente que por vezes aparece mordendo uma maçã, numa clara alusão à expulsão de Adão e Eva do paraíso.

Embora a associação da Virgem com a lua tenha sido herdada da Vênus romana, ela também aparece no Cântico dos Cânticos e na Litania. Seu aparecimento sob os pés da Virgem, assim como a adição da coroa de doze estrelas e da serpente – que a partir do final do século XVI freqüentemente aparece sob os pés da Imaculada – ao seu repertório de atributos se consolidou através da associação da invocação da Imaculada Concepção com a mulher do Apocalipse.

Read more...

Iconografia da Virgem - parte 1

>> quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A iconografia da Virgem, e sobretudo da Imaculada, é uma das mais ricas dentro da tradição católica em termos de atributos, graças às várias associações que foram sendo feitas à invocação ao longo dos séculos. Datando do ano de 1503 encontramos uma outra representação da Virgem que a associa ao Cântico do Cânticos no livro de Horas da Virgem ‘Heures a l’usage de Rome’.9 Nesta ilustração aparece uma representação da Virgem como uma mulher jovem de mãos postas, cercada de elementos que flutuam ao seu redor e vêm acompanhados de tarjas com dizeres retirados do Cântico dos Cânticos.

Abaixo de uma representação em busto do Pantocrator encontramos os dizeres: Tota pulchra es amica mia et macula non est in te (toda bela és, amiga minha, e não há macula em ti). Logo abaixo, encontramos uma série de atributos acompanhados de dizeres retirados de traduções latinas de vários livros bíblicos do Antigo Testamento – Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Sabedoria, Salmos e Isaías – como também de Ave Maris Stella, um hino em louvor à virgem de origem ignorada e que data pelo menos do séc. IX e da Litania da Santíssima Virgem Maria, aprovada em 1587 pelo papa Pio V, mas utilizada desde a Idade Média.

A seguir as interpretações sobre a gravura deste artigo:

• o sol e a lua => electa ut sol; pulchra ut luna (brilhante como o sol, bela como a lua), Cânticos 6:9;
• porta do céu(Porta coeli), Ave Maris Stella, hino medieval em louvor à Virgem, c. séc. IX;

• cedro do Líbano (sicut cedrus exaltata), Eclesiastes 24:17;
• roseiral (plantatio rosae), Eclesiastes 24:18;
• poço de água viva (puteus aquarum viventium), Cânticos 4:15;
• broto de Jessé florido (virga Iesse floriut), Isahia 11:1. ‘E sairá um broto da raíz de Jessé e de sua raíz surgirá uma flor’ (Et egredietur virga de radice Iesse et flos de radice eius ascendet). Jessé era pai de David e, portanto, dá origem aos vários ancestrais de Cristo. A flor a que se refere o versículo, pode ser interpretada como a Virgem com seu filho divino.
• jardim cercado (hortus conclusus), Cânticos, 4:12;
• estrela do mar (stella maris), Ave Maris Stella;
• lírio entre espinhos (sicut lilium inter spinas), Cânticos 2:2;
• oliveira (oliva speciosa), Eclesiastes 24:19;
• torre de Davi (turris davidica cum propugnaculis), Litania e Cânticos (turris David) 4:4;
• espelho sem mácula (speculum sine macula); Sabedoria 7:26;
• fonte dos jardins (fons [h]ortorum), Cânticos 4:15;
• cidade de Deus (civitas Dei) Salmo 86:

Read more...
Related Posts with Thumbnails

Nossa Sra. da Bondade

Nossa Sra. da Bondade
Madonna della Bontà

Nossa Sra. da Tenda

Nossa Sra. da Tenda

Nossa Sra. do Carmo

Nossa Sra. do Carmo

Nossa Sra. do Livro

Nossa Sra. do Livro

  © Regis Design Nossa Senhora by Ourblogtemplates.com 2009

Voltar ao INICIO